Noites Brutais (Barbarian, 2022) é uma ótima opção caso você esteja em busca de um filme de terror honesto, sem se levar a sério demais ou se enxergar como uma produção com potencial para duzentos filmes sequência e derivados, ao passo que também consegue oferecer algumas surpresas em relação aos clichês do gênero.
Na trama, nos deparamos com Tess (Georgina Campbell), uma mulher que chega até uma casa que ela alugou por aplicativo. Ao tentar entrar na casa, ela percebe que o imóvel já está hospedado por outra pessoa, um homem chamado Keith (Bill Skarsgård), que alega ter contratado o mesmo serviço de hospedagem através de um app concorrente.
Sem ter onde ficar (uma vez que chegou por último na casa), ela acaba aceitando o convite de Keith para dormir na casa enquanto tentam descobrir o porquê da confusão ter ocorrido. Além disso, já são tantas da noite e está chovendo, sem contar que a casa não parece estar situada num bairro seguro da cidade de Detroid.
Subvertendo os clichês em “Barbarian”
Temos a partir desse o momento um trabalho narrativo que poderia muito bem escolher caminhos óbvios, pois muitas vezes a preocupação principal numa produção do tipo é colocar uma capa nova no atual “produto” para contar histórias já conhecidas. Por exemplo: alugar hospedagem via aplicativos como Airbnb é uma prática razoavelmente inédita nos tempos atuais, então está aí a oportunidade de copiar um roteiro mais antigo de um filme de terror, acrescentando esses elementos tecnológicos achando que isto bastaria para agradar o público. Felizmente, o diretor e roteirista Zach Cregger sabe disso e apresenta um enredo que, mesmo não entregando um primor cinematográfico, certamente consegue mostrar respeito com quem assiste.
Uma qualidade de “Barbarian” em seus primeiros minutos é a capacidade de aproximar espectador e obra como se estivéssemos presenciando algo parecido com uma comédia romântica de boa qualidade. O contraponto a isso, obviamente, é a desconfiança nossa (e de Tess) a respeito da índole de Keith: um cara legal demais, num cenário inseguro para a mulher, tende a se mostrar uma mortal decepção. Não pesa a favor de Bill Skarsgård seu histórico, já que ele interpretou o tenebroso Pennywise em “It: A Coisa” (2017) e “It: Capítulo Dois” (2019).
Logo após a primeira grande surpresa de “Noites Brutais”, somos abruptamente transportados para a perspectiva de um novo personagem, que irá em certa medida dividir o protagonismo com Tess. Trata-se de AJ, interpretado por Justin Long, um ator em meio a uma briga judicial devido a uma acusação de agressão sexual, que por motivos burocráticos possui relação com a casa na qual estão hospedados Keith e Tess. Sua presença funciona muito bem para, além de nos divertirmos vendo um cara babaca se dando mal, termos enfatizada a proporção de como os perigos para Tess (uma mulher) em casos de insegurança urbana são ainda piores.
No geral, o elenco faz um ótimo trabalho, e a presença de um outro ator, Richard Brake, interpretando um personagem chamado Frank, enriquece ainda mais a maneira como o filme trabalha seus temas. O roteiro prepara por muito tempo seus núcleos de modo individual, entrelaçando essas histórias só quando realmente importa.
Dito isto, é prudente dizer que “Barbarian” consegue ser fonte de boas inspirações até um certo ponto. A exposição prematura de certos elementos e a opção de Zach Cregger por não aprofundar alguns dos temas apresentados acabam minando o limite do que a obra poderia alcançar.